Adriana Pereira Guedes é psicóloga, mestre em neurociências e comportamento e professora na FAG em Cascavel.
(publicado: Jornal Hoje, Cascavel, 16 de novembro de 2003, pág 09)
O tempo não é mais um elemento importante apenas em estudos de ciências físicas. Ele passou, aos poucos a ser compreendido como um elemento importante dentro dos estudos de Psicologia e Biologia, pois está estreitamente relacionado com o desenvolvimento e funcionamento dos organismos vivos. Isto pelo fato de haver um tipo de marcador interno do tempo em nós, um relógio biológico.
A ciência que estuda o relógio biológico é chamada de Cronobiologia. Essa ciência ensina que o relógio biológico serve para entender como o tempo organiza tudo o que é vivo no mundo. Esse relógio parece ser universal e quem o controla é o nosso planeta, que gera movimentos geofísicos que contém diversas durações como dia e noite, estações do ano, etc.
J.J. Mairan foi um dos primeiros estudiosos dessa área a pensar na possibilidade da existência de um relógio biológico. A idéia surgiu da observação do movimento regular de abertura e fechamento das folhas de sentiva (provavelmente Mimosa pudica) em uma janela junto ao telescópio, Mairan resolveu levar o vaso para o porão de sua casa e colocá-lo em um baú. Em condições de ausência de luz constante percebeu que, apesar do baú fechado, o movimento de abertura e fechamento das folhas não haviam findado. A partir daí os estudiosos da época foram compreendendo que o mecanismo era endógeno.
Um pesquisador chamado Halberg, em meados de 1959, introduziu o termo circadiano, que nos estudos de ritmos biológicos refere-se aos ritmos com períodos endógenos próximo de 24 horas. Isto porque, na realidade, o dia sideral possui 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, e o dia solar possui 24 horas e 4 minutos, não sendo constante ao longo dos anos. De acordo com alei de Kepler, o planeta possui movimento acelerado com aproximação do Sol. Tendo em vista tais fatores, resolveu-se adotar o período de 24 horas para o valor do dia solar.
Os ciclos são fenômenos que se repetem de tempos em tempos e estão relacionados com a imagem de avanço do tempo em círculos ou em espiral. Os ciclos expressam-se de forma clara nos organismos, através de hábitos diurnos e noturnos, sono e vigília, reprodução, como no comportamento social ou de organização de seres vivos com as funções celulares.
Assim, quando chega o horário de verão, e nós atrasamos nosso relógio em uma hora, não quer dizer que também estamos atrasando nosso relógio biológico, e é por isso que muitas pessoas não se sentem bem. Com o atraso do relógio em uma hora, ocorre uma demora no reajuste, ou nem ocorra de fato essa alteração em nosso organismo. Sendo assim, as diversas alterações nos esquemas corporais endógenos prejudicam significativamente o nosso sono, a produção no trabalho, no horário de alimentação, aumentando a possibilidade de acidentes de trânsito e, portanto, em nosso bem-estar.
O relógio biológico encontra-se em nosso cérebro e é controlado pelo núcleo supraquiasmático e pelo hipotálamo. Sabendo disso, muitas ciências que compõe a ‘area de neurociências interessam-se pelos estudos desenvolvidos pela cronobiologia, uma delas é a Psicologia.
O pesquisador Peter Hartocollins, em 1972, iniciou uma discussão interessante. Ele diz que a noção de tempo é resultado da integração de duas áreas do desenvolvimento psicológico: a função de ego (entendido com “eu” psicológco) e a percepção do espaço. Ou seja, ele acredita que as relações espaciais como movimento, simultaneidade e sucessão, além de estados primitivos motivacionais, fornece a explicação para o entendimento da internalização da relação como objeto, conceitos estes desenvolvidos por Freud e Melaine Klein.
Desse ponto de vista, podemos compreender porque, no Horário de verão, ocorrem muitos acidentes de trânsito, acidentes de trabalho e diminuição na produção das empresas, mas não conseguimos compreender o fato do governo manter o horário de verão, mesmo sabendo do prejuízo à saúde que esse trás para os indivíduos. Será que a economia é mais importante do que a saúde das pessoas?
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